quarta-feira, 4 de setembro de 2019

A DOCE INFÂNCIA


A infância é um período maravilhoso onde reina a inocência, a alegria, a confiança, a dependência e a doce expectativa da surpresa.

Quando chegamos a adolescência, nos encontramos em meio a guerra com o nosso próprio corpo e as nossas descobertas.

Na juventude vivemos o período da esperança, das realizações e das conquistas. Mesmo quando tardias.

Quando piscamos os olhos, diante do espelho nos deparamos muitas vezes com um adulto frustrado por passar a vida tentando agradar a todos ao seu redor, que trabalha feito um louco para honrar os seus compromissos. Adulto esse que é cobrado dia e noite por algo que não conseguiu terminar ou nem mesmo iniciar. Adulto esse que tem muita dificuldade para dormir, pois a sua cabeça insiste em trazer a tona, mesmo sem ele permitir, as suas decepções com aqueles que o abraçavam, que diziam que estariam sempre presentes, mas que hoje nem se lembram dele e muito menos de suas promessas.

É exatamente diante dessa realidade que o desejo de retornar a infância, a doce infância, ressurge, não por vontade de fugir das responsabilidades, mas por saudade daquele tempo no qual a maior preocupação era tirar notas boas no colégio. Saudade daquele tempo que não era necessário sorrir de maneira forçada mostrando assim uma falsa alegria, pois os sorrisos fluíam naturalmente a cada brincadeira, a cada "pique esconde", a cada "pique pega", a cada "mamãe da rua", a cada pipa que era levantada, a cada pião que girava veloz, a cada tombo de bicicleta, a cada tampa do dedão perdida no asfalto na tentativa de jogar futebol com os amigos, a cada batata doce assada no fogueira montada a beira do meio-fio, a cada ovo que o colega aniversariante recebia de presente em sua cabeça, a cada piada bem ou mal contada, a cada bairro conquistado no banco imobiliário, a cada nova rima que surgia para uma canção bem humorada, a cada presente surpresa de aniversário (as vezes uma tão sonhada bicicleta ou quem sabe uma bola de futebol).

Tempo bom esse que nunca mais viveremos e que a cada dia fica mais e mais distante de nós.

O tempo voa e é imparcial.

A vida passa de uma maneira assustadora.

Quando percebemos, já não somos mais os mesmos.

Apesar de todas as conquistas e derrotas vividas, no fundo, bem no fundo ainda nos sentimos como velhas crianças ou crianças velhas que precisam de atenção e cuidado, mesmo quando não assumimos isso. A pureza não é mais a mesma, mas a carência e os medos continuam lá, intactos; mesmo que adormecidos.

Felizes são aqueles que tem uma infância bem vivida para recordar, pois é justamente ela que traz a memoria o período de alegria verdadeira, livre da falsidade e das pessoas ingratas.

Nessas horas fica fácil entender o que Jesus quis dizer com: "Deixai vir a mim os pequeninos, pois dos tais é o reino dos Céus".

(Daniel Gummi A. de Souza)

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